Quem apanha não esquece. Em 14 de agosto de 2007, a Guarda Municipal de Curitiba, cumprindo ordens da Prefeitura Municipal, da Fundação de Ação Social (FAS) e da Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU), promoveu o despejo forçado da Associação de Moradores “A Força de um Poder Maior” do Sambaqui, Curitiba, e agora, após 11 meses, os moradores tiveram acesso às informações e documentos sobre o caso.
A Associação é filiada à União Nacional por Moradia Popular (UNMP), um movimento social de luta pela moradia em todo Brasil, com representações em vários Estados do paí­s.
As violências realizadas pela Guarda Municipal de Curitiba nessa ação foram denunciadas ao Centro de Apoio de Garantias Constitucionais do Ministério Público Estadual e à  imprensa. Também foi feita denúncia pela Terra de Direitos à  Representante para Defensores de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a detenção e criminalização da militante da luta pela moradia.

Acesso às informações sobre o terreno e a ação ilegal da Prefeitura de Curitiba
A Associação e a União Nacional por Moradia Popular finalmente conseguiram cópia dos documentos oficiais dos processos referentes à sede da Associação de Moradores A Força de Um Poder Maior e ao despejo forçado, através do Centro de Apoio de Garantias Constitucionais do Ministério Público Estadual.
Isto porque toda a documentação pública referente aos pedidos de permissão de uso da área e sobre a atuação da Guarda Municipal foram negadas pela Prefeitura, e apenas através de requerimento do Ministério Público Estadual é que foi possí­vel ter acesso a ela.
Essa atitude da Prefeitura Municipal é um desrespeito ao direito do cidadão de acesso a informações de interesse particular que lhe digam respeito por parte dos órgãos públicos – que é um direito humano garantido pelo art. 5º, inc. XXXIII da Constituição Federal. Além disso, é uma afronta ao princí­pio da publicidade dos atos administrativos, também constitucional.
Agora, conjuntamente com a Terra de Direitos, a UNMP irá buscar a continuidade da investigação do caso e solicitar providências para apuração das condutas ilegais do Comando da Guarda Municipal, da Prefeitura de Curitiba e da presidente da Fundação de Ação Social e para a doação de um terreno adequado para a Associação de Moradores, no Sambaqui.

Processo Judicial
Como resultado dos boletins de Ocorrência (B.O.) feitos pela Guarda Municipal contra a militante Eliane Guenze por “desobediência” e dos boletins realizados pelos moradores Jonas e Miguel contra os agentes da Guarda Municipal, tramita ainda um processo criminal no 5º Juizado Especial Criminal de Curitiba sob o n.º 2007.8833-7, que atualmente encontra-se totalmente parado, pois a todo momento se alteram os juí­zes e promotores responsáveis pelo caso no Juizado Criminal. A audiência preliminar foi remarcada duas vezes devido à  falta de representante do Ministério Público.
O diretor da Associação de Moradores Jonas teve seu braço quebrado que o incapacitou para o trabalho e para suas ocupações habituais por um mês caracterizando lesão grave cometida pela Guarda Municipal, como descreve o artigo 129, §1, inciso I, do Código Penal. Como a pena máxima aplicável para lesão grave é superior a dois anos, a competência para julgamento dos crimes contra os moradores é da Justiça Comum, e não mais do Juizado Especial Criminal que até o momento nada fez. O pedido de transferência do processo para a Justiça Comum (Varas Criminais) foi feito em novembro de 2007, mas até o momento não foi analisado.

Conheça mais sobre o caso do despejo:
Embora a área do Sambaqui esteja em processo de regularização e produção de novas moradias, não havia espaço para sediar sua Associação de Moradores – A Força de um Poder Maior. Em 2005, deu-se entrada a um processo administrativo junto à Prefeitura de Curitiba e à Fundação de Ação Social pleiteando a permissão do uso de parte de uma área pertencente ao património público esse fim. O processo ficou parado até 2006, quando a Associação de Moradores pediu para que definitivamente decidissem sobre o pedido e autorizassem a Associação.
Diversos órgãos da Prefeitura Municipal deram pareceres favoráveis à disponibilização da área, faltando apenas a autorização por parte da FAS para que o terreno pudesse ser liberado. Em setembro de 2006, a presidente da Fundação e primeira-dama do Municí­pio Sr.ª Fernanda Richa (PSDB) fez uma visita às lideranças da Vila Sambaqui. Ao notar a placa de um candidato de oposição na frente da casa da Sr.ª Maria das Graças Silva, presidente da Associação de Moradores, a Sr.ª Fernanda a advertiu de que ela estaria “dando apoio ao candidato errado”. Em seguida, a lí­der comunitária foi informada de que o pedido de liberação do terreno havia sido indeferido, e o processo, arquivado.
No dia 09 de agosto de 2007, a comunidade conversou com o presidente da COHAB, Sr. Mounir Chaowiche, para assegurar a liberação do terreno, que já vigiavam e de que faziam manutenção. Não obtendo resposta, no dia seguinte iniciaram a construção da sede de madeira da Associação de Moradores. Ainda, no dia 13 de agosto de 2007 conversaram novamente com o Sr. Mounir, que se comprometeu a resolver a situação com a Sr.ª Fernanda Richa.
Um dia depois, sem qualquer ordem judicial, Guardas Municipais armados acompanhados de diversos agentes da Prefeitura Municipal e Regional Bairro Novo invadiram o terreno, demoliram a sede da Associação e apreenderam todos os materiais de construção que havia no local. Não bastasse isso, ainda detiveram a moradora Eliane Guenze da Silva, coordenadora nacional União Nacional por Moradia Popular. Ao tentar impedir o despejo, a militante foi abordada por cinco Guardas Municipais, que a agrediram, algemaram e arrastaram para viatura, de onde foi encaminhada para delegacia. Além da militante Eliane, também foram agredidos os senhores Jonas Martins Nepomuceno e Miguel Paixão do Amaral, que intercederam em sua defesa. O Sr. Jonas ficou impossibilitado de trabalhar por mais de um mês devido às agressões sofridas durante o despejo.

Mais informações:
Maria da Graça Silva – Presidente da Associação e Coordenadora Nacional da UNMP – 3564 7212;
Vinicius Gessolo de Oliveira – Assessor Jurí­dico da Terra de Direitos – 3232 4660.