A UNMP, em conjunto com diversas entidades e ONGs, assinou o seguinte documento sobre a questão dos valores do Programa de Habitação Rural. Acreditamos que moradia digna é direito de todos, no campo e na cidade.

Nos próximos dias está sendo definida a nova tabela de valores da política de habitação brasileira dentro da segunda etapa do programa “Minha Casa, Minha Vida”. O déficit habitacional rural no Brasil é de cerca de 1,5 milhão de unidades, mas os valores destinados ao seu combate são irrisórios. Desde a primeira versão do programa, a moradia rural recebe um tratamento desigual, com menos de 1,5% do subsídio total do programa e valor unitário por moradia muito abaixo da política de habitação social urbana: 15 mil reais para o rural e até 52 mil reais para o urbano, na faixa de 0 a 3 salários mínimos.

Essa diferença significa uma quebra da isonomia de um direito constitucional, o direito à moradia, configurando uma situação de sub-cidadania no campo. A verdade é que a política de habitação rural hoje no Brasil é inviável e tem promovido resultados muito aquém do desejado.

A diferença na tabela do “Minha Casa, Minha Vida” é injustificada, pois mesmo somados custo de terreno e infra-estrutura urbana eles não correspondem a tal defasagem. A produção da moradia rural tem ainda custos indiretos adicionais devido a canteiros de obra dispersos, em geral com baixa escala, e custos adicionais de transportes de materiais, estocagem e deslocamento dos construtores – ou seja, maiores do que as obras concentradas nas cidades. No caso das moradias em assentamentos de Reforma Agrária, que também recebem insuficientes 15 mil reais, ocorre dificuldade suplementar: elas estão excluídas do MCMV e voltaram a ser de responsabilidade exclusiva do INCRA, órgão que não possui técnicos em número e qualidade suficientes para implementar um política habitacional e que também não disponibiliza assistência técnica gratuita nessa área.  

urgente que o “Minha Casa, Minha Vida” e o INCRA corrijam essa desigualdade flagrante e decidam por uma política justa de moradia no campo, favorecendo a formação de cooperativas, a geração de renda local e o uso de tecnologias sustentáveis. A atual precariedade da moradia rural contribui para o fracasso da reforma agrária e da agricultura familiar e, consequentemente, com o aumento do êxodo migratório para as periferias urbanas.

Nós, abaixo assinados, reivindicamos igualdade no tratamento do direito à moradia para os trabalhadores do campo e da cidade, e para que não haja uma sub-política para sub-cidadãos. Pela redução da  diferença de valores de subsídios entre a habitação social urbana e rural.

Por moradia digna e cidadania no campo, já!

Assinam os seguintes movimentos, associações e entidades:
MST/Nacional– Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MPA/Nacional – Movimento dos Pequenos Agricultores
ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária
FETAESP – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de São Paulo
UNMP – União Nacional por Moradia Popular
MTST – Movimento dos trabalhadores sem-teto
Movimento Terra Livre
Frente Nacional de Resistência Urbana
Relatoria especial do Direito à moradia da ONU
IAB-SP – Instituto dos Arquitetos do Brasil
IAU/USP – Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Habis – Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade – IAU/USP e UFSCar
LAB HAB – Laboratório de Habitação da FAU-USP
Canteiro para Espaços Experimentais Antonio Domingos Battaglia – FAU-USP
Laboratório de Culturas Construtivas – FAU-USP
Laboratório de geografia agrária da Faculdade de Geografia da USP
INCOOP/UFSCar – Incubadora Regional de Cooperativas Populares da UFSCar
ITCP/UNICAMP – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da UNICAMP
GERAH/UFRN – Grupo de Estudo em Reforma Agrária e Habitat da UFRN
LAB HABITAT do Departamento de Arquitetura da UFRN
Grupo de Pesquisa em Sustentabilidade no Ambiente Construído da UFMS
NUC/FA/UFRGS – Núcleo de Estudos em Assentamentos Humanos da FAU-UFRGS.
Grupo de Pesquisa em Qualidade Ambiental para Territórios Sustentáveis da UFG
LABHAB – Laboratório de Habitação e Urbanismo da Universidade de Cuiabá
LIGNO/UNESP – Grupo de pesquisa de Desenvolvimento de Produtos Lignocelulósicos da UNESP
Grupo Trabalho, movimentos sociais e sociabilidade contemporânea Unesp/FCLAr
ABCterra – Associação Brasileira de Construção com Terra
ABRAPECON – Associação Brasileira dos Pequenos Consumidores Conscientes 
Instituto Pólis
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores
CEFURIA – Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo
USINA – Centro de trabalhos para o ambiente habitado
FOCO – Associação para Estudo e Prática do Desenvolvimento Sustentável
Madeirarte – Marcenaria Coletiva Autogestionária do Assentamento Rural Pirituba II, Itapeva –SP
FATO arquitetura – escritório de projetos, assessoria e cursos de construção com terra
Coletivo TERRA a TERRA
Teia – Casa de Criação