Na quinta-feira (08 de maio), o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto – MTST foi homenageado pela Câmara Municipal do Recife, através de iniciativa do vereador Luiz Helvecio (PT). Os integrantes do Movimento lotaram as galerias da Casa de José Mariano, na sessão solene que terá iní­cio às 16h.

O MTST surgiu em 2000, como forma de organização dos trabalhadores em resposta ao problema do acesso à  moradia digna pela população dos centros urbanos. Atualmente, congrega cerca de 5.500 famí­lias que estão abaixo da linha de pobreza, em todo o Estado de Pernambuco, defendendo o princí­pio da participação popular para a construção de um modelo de desenvolvimento que garanta o acesso à  moradia e a construção de cidades socialmente justas.

O Movimento integra a União Nacional por Moradia Popular (UNMP) e a Secretaria Latino-Americana para la Vivienda Popular (SELVIP), além de ser filiado ao Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU).

Veja abaixo, o discurso do companheiro Reverendo Marcos Cosmo:

Um cumprimento especial aos meus companheiros e companheiras que fazem com muito orgulho e dedicação a luta contí­nua do MTST. Queremos dedicar essa homenagem a todos vocês e aqueles que nesse momento se encontram em outro plano espiritual, mas que deixaram suas marcas na veia e no sangue de todos nós. Dedicamos essa homenagem as nossas crianças, que no seu dia-a-dia sonham com um mundo mais justo, mais fraterno e solidário.

Dedicamos essa homenagem aos nossos jovens, que vêem no MTST uma luz para pensar e construir expectativas para um mundo melhor. Como dizia o comandante Che Guevara, a argila fundamental de nossa obra é a juventude. Nela depositamos todas as nossas esperanças e a preparamos para receber idéias para moldar nosso futuro.

Enfim, dedicamos essa homenagem as nossas mulheres bravas, que com coragem e determinação têm demonstrado expressão de vida e esperança para todos nós.

O problema de moradia tem sido algo freqüente na Região Metropolitana do Recife. Diria até mais: um problema de dimensão nacional. Um problema que chega a ser uma ameaça aos direitos da pessoa humana, já que a moradia, pela qual lutamos, é vista por nós como um direito fundamental à vida.

Essa carência tem feito surgir em Pernambuco várias ocupações de luta por moradia. Insisto em afirmar que o direito à  moradia como direito humano está em diversas declarações e tratados internacionais em Direitos Humanos, dos quais o Brasil faz parte.

Com a emenda 26, de 14 de fevereiro de 2000, que alterou a Constituição Federal de 1988, este direito passou a categoria de Direito Social. Contudo, o Estado pouco vem tomando as medidas necessárias para a aprovação deste direito. Infelizmente, para nós do MTST, a ocupação e a autoconstrução vêm sendo a principal forma de acesso à  moradia pela população de baixa renda no Brasil. Por um lado, esta população não tem tido condições de comprar sua casa num mercado cada vez mais elitista e, por outro lado, as polí­ticas governamentais colocam em segundo plano os mais necessitados.

As dificuldades da população de baixa renda em relação à  moradia se refletem também na falta de acesso aos serviços urbanos, ao trabalho, à cultura e ao lazer. Afinal de contas, nós não queremos só casa. Queremos casa, comida e… Por isso, o MTST vem promovendo ocupações em terras ociosas e prédios públicos abandonados.

Atualmente o MTST é responsável por aproximadamente 15 mil famí­lias, sendo 70% na Região Metropolitana de Recife e 30% no Agreste e Sertão do nosso estado. É nesse contexto que surge o MTST.

Vereador Luiz Helvecio, toda essa nossa história começou em novembro do ano de 1999, quando realizamos uma grande passeata em defesa da soberania do Brasil. Esse Paí­s era governado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja polí­tica era a do entreguismo e do desmonte do nosso património, construí­do historicamente com a garra do povo Brasileiro.

Essa passeata era de toda a sociedade civil que estava clamando por mudanças. E ao final dessa histórica manifestação, em frente ao prédio do INSS, onde aconteceu o encerramento desse ato, houve uma grande ocupação dos sem teto.

Era uma ocupação embutida de uma mística, onde se percebia nitidamente a vontade de se construir um outro mundo. Essa ocupação foi o iní­cio de toda nossa história.
A partir daí­, surgiram outras ocupações como a do Engenho Maranguape, em Paulista, com 250 famí­lias, a ocupação da Torre, com 150 famí­lias, do Coliseun, em Boa Viagemn com 250 famí­lias, do Fundão, com 70 famí­lias, de Campo Grande, com 270 famí­lias e tantas outras que ocorreram nesses últimos anos, na nossa cidade e Região Metropolitana do Recife.

Foi a partir dessa conjuntura que sentimos a real necessidade de construir um movimento sólido, capaz de organizar essas famí­lias de sem teto, numa cidade que tem um déficit habitacional de 80 mil moradias, e num Estado onde 315 mil famí­lias não possuem um teto para morar.

Depois de três dias no Centro de Formação Polí­tica Paulo Freire fazendo uma análise do que querí­amos construir, surgiu então esse magní­fico sí­mbolo da bandeira do MTST e seu cântico mí­stico que diz: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Onde é que eu vou morar? Se derruba meu barraco é de lascar! E aí­ com sete filhos onde é que eu vou morar?”.

Além desse sí­mbolo, construí­mos uma Carta de Princí­pios e elegemos uma coordenação provisó³ria que ficou assim construí­da: Marcos Cosmo, Onildo Romão e Geane Silva.

Ao retornar, esse Movimento nunca mais parou. E nem vai parar. Enquanto houver um sem teto no Recife, no Brasil e no mundo, como dizia o grande companheiro Che: “Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros”.

Não podemos também esquecer que o MTST é fruto das lutas históricas de Zumbi dos Palmares, Antonio Conselheiro e tantos outros sí­mbolos de resistência popular que ocorreram no nosso Paí­s.

Convém salientar que a nossa proposta é de sempre estar colocando de forma permanente, na agenda do dia, a problemática da habitação de interesse social, pressionando nossas autoridades a construir mais unidades habitacionais para famí­lias de baixa renda. Assim, trabalhamos para tornar esses nossos companheiros e companheiras em sujeitos de suas próprias histórias.

O MTST se organiza da seguinte maneira: formação de coletivos para a direção do processo organizativo, cujas decisões são tomadas através de colegiados.

A direção de cada ocupação também é feita de forma coletiva, com eleição democrática feita pelos ocupantes. Temos ainda, nas ocupações, um coletivo de segurança interna da área, que cuida da disciplina dos acampados, e um coletivo de formação polí­tica, que é responsável pelo crescimento intelectual da nossa companheirada.

O MTST é filiado à União Nacional por Moradia Popular, cuja sede fica na cidade de São Paulo e que hoje tem atuação em 17 estados da Federação Brasileira.

O Movimento também é filiado à  Secretaria Latino Americana de Viviendas Populares – SELVIP, com sede em Buenos Aires, na Argentina, e ainda ao Fórum Nacional de Reforma Urbana, com sede no Rio de Janeiro.

Gostaria de encerrar esse nosso pronunciamento, agradecendo a Deus que é pai e mãe de todos nós. E convocar, mais uma vez, o pensamento desse grande revolucionário Che Guevara que diz: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamas – Hasta la victória siempre”.