A RUA É DAS PESSOAS, E NÃO DOS CARROS
Todos os dias andamos em calçadas estreitas enquanto carros ocupam extensos espaços da “via pública”, com largas vias para estacionarem; essas mesmas calçadas quase sempre cheias de buracos, onde mães com carrinhos de crianças e pessoas com deficiência fazem verdadeiras aventuras de obstáculos para chegarem a seus destinos, sofrendo acidentes, pois as casas deixam as calçadas cheias de rampas para a entrada dos carros.



E a bicicleta, onde heróis anônimos arriscam a vida todos os dias para chegarem a seus trabalhos, e as crianças, às suas escolas.A rua, ao invés de espaço de vida, é o espaço do medo; das mortes, onde carros passam em alta velocidade por dentro de calmos bairros cheios de crianças, idosos e pessoas com deficiência – os seres mais frágeis – levando diariamente a morte a vários locais das cidades.

Os ônibus, por falta de alternativas, trafegam em meio aos imensos congestionamentos provocados pelo excesso de carros que entopem nossas ruas, tornando a tarifa mais cara e a rotina de deslocamento insuportável, do transporte fluvial sem políticas e abandonado totalmente a soluções de mercado.

 

 FNRU- Forum Nacional da Reforma Urbana
MDT – Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte de Qualidade

Essa introdução é para acordarmos e sabermos que quem administra o uso das ruas (espaço que fica entre uma casa a outra, do outro lado da rua, e engloba o que o senso comum diz: calçada, estacionamento e via de passagem… do carro, é claro) é o Prefeito, os Governos de Estado e o Governo Federal com suas casas legislativa. E foram eles que escolheram os automóveis e não os transportes públicos para sua política de mobilidade: gastando dinheiro público para favorecer os financiamentos dos automóveis ao fazer renuncias fiscais de IPI, não cobrar a CIDE Combustível da gasolina por um ano inteiro, ao aumentar o diesel dos ônibus 4 vezes mais que a gasolina,ao cobrar dos usuários todos os impostos sobre os serviços de transportes além de passar todos os ônus financeiros das políticas sócias (gratuidades dos portadores de deficiência , idosos e meia passagem dos estudantes que são tarifas sociais que defendemos) e ao construir todas as vias , viadutos e estacionamentos para serem utilizados mais de 90% pelos automóveis.
É essa injustiça que leva o país a ter uma mobilidade da exclusão social e insustentável financeira e ambientalmente, tratando o transporte público como mercadoria .
Recentemente parece que há sinais de mudança com a implementação das leis e decreto de acessibilidade universal para pessoas com deficiência do PAC da Copa ( 11 bilhões alocados ) e a promessa de mais 24 bilhões para cidades com mais de 300 mil habitantes para implantarem sistemas estruturais de transportes público( metros, ferrovias urbanas, Corredores exclusivos de Ônibus (BRTs) e de Bondes modernos (VLTs) além de calçadas e ciclovias como sistemas complementares.Outro sinal é a possibilidade de aprovação do Marco Regulatório da Mobilidade (PL da Mobilidade) onde a prioridade de Estado é o transporte público e não motorizado
É neste sentido que o Fórum Nacional da Reforma Urbana –FNRU e o MDT – Movimento Nacional pelo Direito ao Transporte Público de Qualidade para Todos – vem se engajar na 9ª Jornada Brasileira “na cidade, sem meu carro” propondo a população um dia de reflexão e consciência sobre a MOBILIDADE QUE TEMOS E A MOBILIDADE QUE QUEREMOS e que A RUA SEJA DAS PESSOAS,E NÃO DOS CARROS defendendo:

1.      Transformar os estacionamentos na via pública em aumentos de calçadas, ciclovias e faixas exclusivas de ônibus, ou em um lindo jardim;
2.     Garantir que todo investimento em novas ruas, incluindo os viadutos, sejam exclusivamente para pedestres, ônibus e bicicletas;
3.     Utilizar faixa ou faixas de vias, hoje dos automóveis, para implantarem corredores exclusivos de ônibus,e bondes modernos e que esses sejam fiscalizados diariamente para não serem invadidos;

4.     Assumam um compromisso público de que o dinheiro recolhido das multas de trânsito seja aplicado na fiscalização, educação, reforma de calçadas, ciclovias e qualificação e implantação de novos dos corredores de ônibus,metrôs, ferrovias, bondes modernos, e que, todo ano, a Prefeitura Governo do Estado e Governo federal prestem contas públicas de como aplicou esse dinheiro;
5.     Criação de calçadas públicas acessíveis a pessoas portadoras de deficiência (pagas e fiscalizadas pelo poder público), onde o fluxo de pedestre for muito alto. Nas demais calçadas, implantem normas para que o cidadão reduza a um pequeno aclive o acesso do automóvel e garanta a circulação em nível para o pedestre e plantio de árvores;

6.     Nos bairros, estreitar as vias e alargar as calçadas para os pedestres e fazer ciclo faixas bicicletas, e em muitos lugares, a calçada deve atravessar a rua para que os carros saibam que essa rua é das pessoas;
7.     Fiscalização com multa da faixa de pedestre, para que a respeitem da forma que acontece em Brasília, e em outras cidades, onde os motoristas se tornaram, a partir de então, “motoristas cidadãos”;
8.     Que o poder público planeje o uso da rua de forma racional, integrando entre si metrôs, ferrovias urbanas, bondes modernos , barcos e ônibus , todos com acessibilidade para pessoas com deficiência e estes com as bicicletas, calçadas acessíveis e carros aos corredores exclusivos de ônibus e às linhas de ferrovia e metrô, quando existentes na cidade e      implante a bilhetagem eletrônica temporal (“bilhete único”), onde o usuário utiliza o transporte público por 1 ou 2 horas , garantindo cidadania e redução de custo;
9.      Que nas cidades os estacionamentos de automóveis sejam regulados pelo poder público com taxas progressivamente mais altas, conforme estejam próximas aos centros urbanos, e com esses recursos criar um fundo público para aplicar em obras de transportes públicos, calçadas e ciclovias;
10.   Que sejam implantados em todo o país até 2014 a utilização de combustíveis limpos nos ônibus urbanos, com destaque para o Diesel com 50 ppm (partículas por milhão de enxofre), bem como o bio-combustível, gás e outros combustíveis que é de responsabilidade federal, com apoio de recursos federais e estaduais;

11.    E que os investimentos do PAC da Copa (11 bilhões) e do PAC da Mobilidade (18 bilhões) em sistemas estruturais de transportes públicos integrados e articulados as calçadas e ciclovias e estacionamentos de automóveis sejam aplicados com controle social e garantindo a elas Acessibilidade Universal para transformar a “rua dos carros” em “rua das pessoas”.acompanhados do barateamento das tarifas em todo território nacional.
Brasília, 22 de setembro de 2010